domingo, 18 de outubro de 2009

O NOBEL DA PAZ DEFENDE A GUERRA

Por Luiz Eça

De boas intenções o inferno está cheio, diz o ditado, mas com elas dá para ganhar o Prêmio Nobel da Paz. Em declarações e discursos, Barack Obama afirmou que tudo faria para que a paz reinasse sobre a Terra. Pena que até agora suas ações ainda não estiveram à altura de suas intenções.

Estranho foi que, quando se encerrou o prazo das indicações para o Nobel em 1 de fevereiro, Obama mal tinha completado 12 dias de governo, período em que ele nada fez pela paz. Nem teria tempo... Como um comentarista americano disse, foi o mesmo que conceder o Oscar a um filme ainda em produção.

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Na Palestina, depois de exigir o cancelamento da expansão dos assentamentos israelenses como pré-condição para se iniciarem negociações de paz de Telaviv com os palestinos, acabou voltando atrás diante da negativa de Netanyahu. Não tomou nenhuma atitude para fazer Israel suspender o bloqueio da região pelo exército, o que está impedindo a reconstrução da semi-destruída região, a recuperação de sua economia e de suas escolas e o fornecimento de remédios e alimentos, cujo ingresso é limitado pelos militares israelenses. E, talvez mais grave: tentou salvar Israel da condenação de suas barbaridades no ataque a Gaza.

O chamado relatório Goldstone da missão da ONU que investigou o ocorrido condenou os foguetes lançados pelos palestinos, mas reservou as críticas mais pesadas à atuação de Israel: "Foi um ataque intencionalmente desproporcional, planejado para punir, humilhar e aterrorizar a população civil, reduzir drasticamente os recursos econômicos da comunidade local para poder trabalhar e prover seu sustento e, com isso, forçar uma dependência e vulnerabilidade sempre crescentes".

A comissão reportou que em 11 situações o exército israelense alvejou civis diretamente, em alguns casos "quando tentavam sair de casa, buscando locais mais seguros, agitando bandeiras brancas". Foi verificado que quase nunca havia qualquer justificação militar para estas violências. O relatório citou outros possíveis crimes de responsabilidade dos israelenses: destruir intencionalmente plantações de alimentos e serviços de água e esgotos; destruir áreas com grande número de civis com o objetivo de matar uns poucos combatentes; usar palestinos como escudos humanos e aprisionar homens, mulheres e crianças em covas.

Talvez um das mais graves acusações foi a de que cerca de 10 bombas, inclusive de fósforo branco, foram lançadas contra o principal edifício da ONU, em Gaza, onde 700 civis estavam refugiados. Havia um grande depósito de combustível no local, mas, embora avisados várias vezes, os israelenses continuaram o bombardeio (resumo do New York Times).
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No final, a resolução apoiando o relatório e pedindo investigações às partes foi aprovado por 25 votos a favor (inclusive do Brasil) contra 6 e 11 indecisos. Os EUA foram contra. Douglas Grifith, seu representante, apoiou os protestos israelenses e declarou-se "decepcionado com o resultado e pelo fato de terem sido tomadas decisões às pressas".

Decepcionados devem ter ficados aqueles que deram o Nobel da Paz a Barack Obama pois a rejeição do relatório Goldstone, defendida por seus representantes, significaria, como disse Sarah Leah Whitson, diretora da Ong Human Rights Watch, "enviar uma terrível mensagem no sentido de que violações das leis da guerra por Estados aliados seriam toleradas".

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