Diante dos ataques que tem recebido, Kátia Furtado escreveu uma carta aberta para publicar sua resposta, sua última palavra sobre as calúnias que tem sido desferidas contra ela e a AFBEPA, pelo grupo partidário que dirige o Sindicato dos Bancários. Leia o documento abaixo, que relata fielmente uma importante parte da história recente do sindicalismo bancário no Pará. São fatos. Confira a carta aberta de Kátia Furtado.
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QUEREMOS RESPEITO, LUTA
PELOS NOSSOS DIREITOS E INTERESSES E DEFESA DAS NOSSAS CONQUISTAS.
Nos últimos anos, é deprimente
a postura da maioria das pessoas que compõem a direção do Sindicato dos
Bancários; digo a maioria, porque algumas, pouquíssimas, se salvam, mas,
infelizmente para a categoria bancária, essas não detêm estatutariamente poder
para mudar o quadro que está posto hoje.
As minhas críticas têm sido
feitas objetivamente, cobrando postura de proteção, defesa e luta diante de
tudo o que os trabalhadores sofrem e querem, e precisam para viver. Faço isso,
porque a minha alma, o meu ser, sente fortemente a indignação de quem chora ao
ver tanta desigualdade e injustiça, mas, junto com as lágrimas, carrega dentro
de si a vontade de buscar construir um mundo melhor.
Jamais me calei, mesmo no
governo petista, quando fui tão atacada e perseguida, porque não aceitei a
política de atrelamento e conchavos entre o Governo, a Direção do Banpará e o
Sindicato dos Bancários.
OS
FATOS QUE DEIXARAM CLARO O ATRELAMENTO
Ao início do ano de 2009, a
AFBEPA tomou conhecimento que o Banpará não iria implantar o Plano de Cargos e
Salários que, por força do Acordo Coletivo de Trabalho, tinha seu cumprimento
fixado para 18/05/2009. Logo após, com a saída da integrante titular do GT,
passei a compor o Grupo de Trabalho do PCS.
Certo dia, pouco antes de
18/05/2009, o Presidente do Banpará, em conjunto com a Diretoria
Administrativa, me chamou até a sua sala, no edifício matriz da Presidente
Vargas. Ele falou-me sobre uma reunião na qual as entidades já haviam aceitado
um acordo para prorrogar a implantação do PCS. Mas, em momento algum, o
Presidente do Banpará apresentou a mim motivos que justificassem seu
desiderato. Após deixar bem claro que eu não havia participado dessa citada
reunião, o que a então Dirad confirmou esclarecendo ao Presidente que a AFBEPA
sequer havia sido convidada, imediatamente me posicionei contrária à decisão
que traria muitos prejuízos às nossas vidas, enquanto bancárias e bancários do
Banpará.
Não aceitei me dobrar àquela
determinação, e fiquei totalmente decepcionada com a postura das entidades
sindicais que, sem jamais consultar a categoria, sem respeitar os direitos
conquistados nas lutas, se dobraram e entregaram as cabeças de mais de mil trabalhadores,
pais e mães de família, que estavam, há quase 20 anos, com o Plano de Cargos e
Salários congelado; muitos dos quais já beiravam a aposentadoria, suportaram,
durante os 12 anos de governo tucano, uma nociva política de reajuste zero, e
tiveram, por pressão do BACEN em 1998, que emprestar 20% dos seus salários para
capitalizar o Banpará.
A AFBEPA, naquele momento
sozinha, sem o apoio de qualquer entidade do movimento sindical, iniciou uma
forte defesa da cláusula 18ª do ACT 2008/2009, que versava sobre a implantação
do Plano de Cargos e Salários do funcionalismo do Banpará e, para tanto, chamou
a unidade dos trabalhadores, para salvar o nosso Direito.
DA LUTA PELA IMPLANTAÇÃO DO
PCS E A VITÓRIA NA JUSTIÇA CONTRA OS PELEGOS
Enquanto Presidenta da Associação
informei a todos o que estava acontecendo, mobilizei, organizei, reuni e chamei
à UNIDADE os trabalhadores do interior e da capital. NÃO PODÍAMOS NOS CURVAR À DIREÇÃO DO
BANCO, AO GOVERNO E AO SINDICATO DOS BANCÁRIOS.
Enfrentamos o sindicalismo pelego e atrelado e, com mérito, pois foi muito
difícil lutar contra GOVERNO, BANCO E SINDICATO; eles estavam muito unidos, mas
nós também estávamos e vencemos, em parte, um round dessa luta.
Entretanto, era latente, e
para mim, muito forte o ódio que integrantes da direção do Sindicato dos
Bancários, em sua grande maioria, passou a nutrir contra a minha pessoa. Até
hoje percebo isso.
Na época, a coesa máquina
formada pelos entes - Sindicato, Governo e Banpará, perseguiam, mentiam,
caluniavam, enfim, utilizavam de todo tipo de medidas baixas e rasteiras para
buscar uma impossível legitimidade, porém a categoria já sabia quem estava ao
lado deles e de nossas lutas; já sabia separar o joio do trigo.
O grande responsável pela
vitória do PSDB em 2010 foi o próprio desgoverno do PT. Eles, somente eles, com
sua incompetência e desrespeito, entregaram tudo aos tucanos. Quem se esqueceu
das nossas campanhas salariais, quando eles denunciavam os trabalhadores porque
queriamos fazer greves para tentar modificar a postura patronal?! Os diretores
do Sindicato iam contra a gente; fecharam os portões para os legítimos donos do
Sindicato, impediram os bancários até de entrar e fazer assembleia; anularam
eleição sem apresentar justificativas plausíveis, de tudo fizeram contra os
bancários do Banpará. Até num jornal de grande circulação local, o Sindicato
apunhalou a categoria quando publicou em nota paga, expressamente, que não
apoiava a nossa greve, que quem era responsável pela greve era a AFBEPA. Daí a
sua deslegitimação aos olhos da categoria; por isso, hoje, a AFBEPA, com apenas
uma representante liberada tem que atuar como Sindicato e possui o
reconhecimento dos bancários e bancárias do Banpará.
Seria cômico, se não fosse
trágico, mas como explicar que, neste ano, 2012, a mesma postura de atrelamento
foi adotada, só que agora o Estado não é governado pelo PT, e sim pelo PSDB, e
por que, novamente, eles foram contra a nossa greve??!!
Justificavam que a categoria
tinha que entrar junta na greve, contudo, esqueciam que, diferente dos
banqueiros da FENABAN, a posição da direção do Banpará foi de não receber a
nossa Minuta, na data da entrega desse documento, a direção do Banco mandou um
advogado para recebê-lo e nós exigimos que viesse um diretor. A direção do
Banco não quis, de forma alguma, ratificar o nosso ACT (a ratificação é o que
garantiria, e garantiu pela nossa luta, a validade do ACT até a assinatura do
novo Acordo). A direção do Banco comunicou, por diversas vezes aos funcionários
e ao Sindicato, que não atenderia as nossas cláusulas econômicas, apenas
discutiria as cláusulas sociais, assim como só acataria as cláusulas econômicas
que viessem da FENABAN. Nossas perdas seriam imensas.
Diante da gravidade dessa
situação, a direção do Sindicato apenas chamou algumas inexpressivas
paralisações, apoiadas pela Direção do Banpará. Na Justiça do Trabalho, na
frente da Desembargadora Federal do Trabalho, a direção do Banco manteve o que
já havia externado pela intranet aos funcionários: não negociaria nada.
Cláusulas econômicas seriam somente as da FENABAN. O Banco só negociaria as
cláusulas sociais. Porque mesmo assim, com o tamanho endurecimento do Banco, a
direção do Sindicato foi contra nossa greve?!
Isso tudo poderia significar
perdas irreparáveis, ou de difícil reparação para nós, empregados; por isso,
como entidade legítima de defesa e luta dos interesses, direitos e conquistas
dos trabalhadores, novamente tínhamos que ir à luta, e fomos.
Puxamos a greve, numa
tumultuada assembleia chamada pelo Sindicato, e ali, mais uma vez, os
trabalhadores mostraram à direção sindical que não estavam satisfeitos com a
política, no mínimo complacente da entidade, diante dos ataques que estávamos
sofrendo por parte da direção do Banpará, agora de governo tucano, amarelo, se
quisermos definir por bandeira.
Naquela assembleia a direção
do Sindicato defendeu a posição que mais agradava a direção do Banpará. A
AFBEPA defendeu a greve imediata e a categoria, por ampla maioria, votou na
greve imediata. Mas, agora, a direção do Banco e a direção do Sindicato,
juntas, atacam uma decisão que foi dos bancários e bancárias reunidos em
assembleia puxada pelo próprio Sindicato, dentro do ginásio do Sindicato.
A AFBEPA foi à luta. Muito
cedo, às 5 horas da manhã, já estávamos na porta da Matriz, segurando a força
da greve. Mas, em contrapartida, já não bastasse à luta contra a força da
administração do Banco e do governo, o Sindicato ligava para todos os
interiores falando contra a nossa greve. A cada dia tínhamos que nos esforçar
para rebater a desagregação promovida pela direção do Sindicato dos Bancários.
2012 - O DESRESPEITO PROMOVIDO
PELO BANCO E A CONSEQUENTE FRAGILIZAÇÃO DA MESA DE NEGOCIAÇÃO
Só após a deflagração da nossa
Greve, o Banco abriu a mesa de negociação e ratificou o nosso ACT. Na abertura
da mesa, a Direção do Banpará não quis
consignar nada em Ata, e a única entidade que, na hora, questionou e se
posicionou contrária à ausência de uma Ata foi a AFBEPA, cobrando, com
veemência, pois aquilo era um desrespeito para com a categoria. Timidamente o
Sindicato concordou, mas, nas futuras mesas, não exigiu a confecção das Atas,
permitindo o desrespeito contra os trabalhadores, ali representados.
No dia da assinatura do ACT,
novamente a postura sindical foi ridícula, pois a presidenta do Sindicato,
calou, consentiu, anuiu com a imposição do presidente do Banco em deixar uma diretora do próprio Sindicato do
lado de fora da sala. Cadê o respeito pela entidade, e, por conseguinte,
aos trabalhadores?!
Cobrei, assim que adentrei o
recinto, o porquê de haver uma dirigente sindical do lado de fora, na
antessala, pois pra mim, mais uma vez, a descortesia, a deseducação e a
arrogância estavam prevalecendo por parte da direção do Banpará, que punha para
fora, sem o mínimo respeito, uma dirigente sindical. Mas quem devia defender e
se levantar para mostrar que não aceitava aquilo, era a presidente do
Sindicato, que nada fez, quedou inerte, aceitou calada a humilhação.
Recentemente, outra vergonha:
a entrega do abaixo-assinado sobre o tíquete extra, quando o Sindicato chamou
uma mobilização para a porta da Matriz, e não
conseguiu, sequer, chegar à sala da presidência do Banco para entregar o
resultado do esforço dos colegas, onde todos acreditaram e assinaram, e
passaram o abaixo-assinado, mas a direção do Sindicato aceitou a determinação
do presidente do Banco, que ordenou que uma secretária sua pegasse o
abaixo-assinado das mãos da direção sindical, na recepção, na entrada da 28 de
setembro.
A AFBEPA vem denunciando essa
fraqueza e complacência da direção sindical, que sempre atende aos interesses
da direção do Banco! Os trabalhadores vêem, é gritante, já há algum tempo, essa
falta de política de enfrentamento, essa falta de coragem, de firmeza, de
tempestividade para as lutas!
Até sugerimos, na luta do
tíquete extra, a paralisação de todas as unidades do banco por 1 hora e,
posteriormente, crescer com o movimento em defesa do retorno do nosso direito,
do retorno do nosso dinheiro. Mas a direção sindical preferiu paralisar pelo
motivo da ampliação do horário nas Unidades do Interior, mesmo sabendo que o
Banco estava agindo ilegalmente nessa questão, uma vez que a regra do ACT é
clara: cabe ao Comitê de Segurança dispor sobre o fechamento e abertura das
unidades do Banco. Ou seja, o Sindicato foi envidar esforços, sobre algo que o
Banco teria que rever a sua posição, pois estava agindo contra o que havia
convencionado, a sua postura era ilegal e inadequada em relação à segurança.
Quando vencemos e o Banco teve que retroceder e mudar os horários de
encerramento do atendimento, ficou bem claro, pela própria área que a vitória
tinha sido dos argumentos legais que a AFBEPA e os representantes dos
funcionários no Comitê de Segurança defenderam.
NÃO TENTEM ME ENLAMEAR! TENHO ORGULHO
DE SER O QUE SOU, DE LUTA! E TEREI SEMPRE MINHA CABEÇA ERGUIDA!
A própria Direção Sindical
contribuiu e contribui para sua queda, pois não trata com compromisso e
seriedade as questões dos trabalhadores.
Em relação a mim, Kátia
Furtado, que tenho vivido esses anos sendo atacada por essa direção sindical,
em ambos os governos, somente posso afirmar que JAMAIS farei conchavos, ou
mesmo me aliarei a governos ou empregadores, pois não acredito em nenhum dos
dois e nem que, da parte dessas instituições, sem lutas, saiam políticas
positivas para a vida dos trabalhadores. Não acredito em empregador e em
governo. Eles fazem o que é melhor para defender os seus interesses, mas erram
quando nos retiram direitos. A gente tem que fazer a nossa parte, que é lutar
pelo que queremos. A AFBEPA e a categoria têm feito a sua parte, que são as
nossas lutas e as nossas vitórias.
Governantes e direções de
Banco, como pessoas que representam interesses dos exploradores que querem,
sempre, auferir lucros exorbitantes, vão ser boazinhas em algum momento e
conceder a nós, os explorados os bens da vida que precisamos para viver?! Só
acreditaria nisso, se ainda acreditasse em contos de fadas, e essa fase da
minha vida já passou.
A história nos mostra que as
conquistas e as mudanças nunca vieram por concessões, benesses, nunca foi
assim; ao contrário, o que se conquistou por direito teve a força dos
trabalhadores em duros embates contra o poder dos patrões; embates que custaram
até vidas de centenas de trabalhadores de luta. A forma mais usada pelos
trabalhadores, em oposição à opressão patronal é a recusa ao trabalho, que se
dá de diferentes maneiras, dentre elas a greve, que é a mais utilizada, quando
as portas do diálogo se fecham, o que tem acontecido muito no Banpará: portas
fechadas e diálogos negados.
De minha parte, posso olhar e
dizer com muita MORAL, diante do rosto de quem quer que seja, e afirmar que
nunca fui de governo algum, nunca tive ninguém lá; e não tenho interesse de
ser; nunca sentei sozinha com diretores do Banco, nunca pedi nada a nenhum
deles que me favorecesse pessoalmente ou alguém de minha família, até porque
não aceito e nem gosto ser cobrada; resido num apartamento na periferia que
comprei com meu FGTS; tenho um Fiat Uno Mille Fire 2007/2008, básico. Vivo do
meu salário e do que o meu marido ganha, e assim sustento e educo meus filhos
que sempre terão orgulho de dizer que sua mãe é uma pessoa verdadeira, que
jamais traiu ou enganou pessoas ou causas.
Estou fazendo esse relato,
porque não admito que ninguém jogue na minha cara coisas que não sou e não
tenho. O que tenho, e são inatingíveis, intangíveis e intocáveis, além dos meus
filhos, que são os bens mais preciosos que tenho aqui na terra, são os meus
princípios e valores de vida, que aprendi com a minha mãe e que repasso para os
meus filhos. Sou uma pessoa simples e humilde, mas uma fera quando se trata de
defender o que acredito. Conhecer, entender e defender a condição humana é
fundamental, por isso também me defino como humanista; não aceito que as
pessoas sejam tratadas como coisas, isso para mim é inadmissível.
Estou na vida sindical e
pretendo terminá-la, um dia, COM A MINHA HONRA INTACTA. Jamais vou aceitar algo
que ameace os interesses, direitos e conquistas da categoria bancária, ou mesmo
os interesses sociais que defendo e acredito.
Basta! Que esses diretores do
Sindicato se dêem o devido respeito, porque eu exijo, sempre, que me respeitem
e que respeitem quem eu represento. Inclusive, como filiada do Sindicato, cuja
direção tanto me ataca, devo buscar meus direitos legais, a reparação dos danos
morais que vivem me imputando. Assim, penso que aprenderão a respeitar uma
mulher de luta!
Busquem serem mais atuantes,
verdadeiros, corretos; aí sim, vocês vão se livrar das justas críticas e, quem
sabe um dia, terão o apoio da categoria. Enquanto isso, me deixem em paz e
trabalhem, como eu faço.
Finalmente, nada me detém
quando sei que estou no caminho certo. Como diz o ditado, não se joga pedra em
árvore que não dá frutos. Se me jogam pedras, eu respondo com mais trabalho,
com mais luta, com mais independência e coragem. Tudo passa nessa vida, mas a
honra, e as sementes que plantamos ficam. E isso, ninguém me tira.
Que 2013 seja um ano abençoado
a todos nós, de muitas lutas, conquistas e aprendizados.
KÁTIA
FURTADO
BANCÁRIA DO BANPARÁ,
ADVOGADA-OAB 14979
PRESIDENTA DA AFBEPA,
REPRESENTANTE NOS EMPREGADOS DO BANPARÁ NO GT PCS.
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