sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A CARTA ABERTA DA VERDADE, POR KÁTIA FURTADO


Diante dos ataques que tem recebido, Kátia Furtado escreveu uma carta aberta para publicar sua resposta, sua última palavra sobre as calúnias que tem sido desferidas contra ela e a AFBEPA, pelo grupo partidário que dirige o Sindicato dos Bancários. Leia o documento abaixo, que relata fielmente uma importante parte da história recente do sindicalismo bancário no Pará. São fatos. Confira a carta aberta de Kátia Furtado.

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QUEREMOS RESPEITO, LUTA PELOS NOSSOS DIREITOS E INTERESSES E DEFESA DAS NOSSAS CONQUISTAS.

Nos últimos anos, é deprimente a postura da maioria das pessoas que compõem a direção do Sindicato dos Bancários; digo a maioria, porque algumas, pouquíssimas, se salvam, mas, infelizmente para a categoria bancária, essas não detêm estatutariamente poder para mudar o quadro que está posto hoje.

As minhas críticas têm sido feitas objetivamente, cobrando postura de proteção, defesa e luta diante de tudo o que os trabalhadores sofrem e querem, e precisam para viver. Faço isso, porque a minha alma, o meu ser, sente fortemente a indignação de quem chora ao ver tanta desigualdade e injustiça, mas, junto com as lágrimas, carrega dentro de si a vontade de buscar construir um mundo melhor.

Jamais me calei, mesmo no governo petista, quando fui tão atacada e perseguida, porque não aceitei a política de atrelamento e conchavos entre o Governo, a Direção do Banpará e o Sindicato dos Bancários.

OS FATOS QUE DEIXARAM CLARO O ATRELAMENTO
Ao início do ano de 2009, a AFBEPA tomou conhecimento que o Banpará não iria implantar o Plano de Cargos e Salários que, por força do Acordo Coletivo de Trabalho, tinha seu cumprimento fixado para 18/05/2009. Logo após, com a saída da integrante titular do GT, passei a compor o Grupo de Trabalho do PCS.

Certo dia, pouco antes de 18/05/2009, o Presidente do Banpará, em conjunto com a Diretoria Administrativa, me chamou até a sua sala, no edifício matriz da Presidente Vargas. Ele falou-me sobre uma reunião na qual as entidades já haviam aceitado um acordo para prorrogar a implantação do PCS. Mas, em momento algum, o Presidente do Banpará apresentou a mim motivos que justificassem seu desiderato. Após deixar bem claro que eu não havia participado dessa citada reunião, o que a então Dirad confirmou esclarecendo ao Presidente que a AFBEPA sequer havia sido convidada, imediatamente me posicionei contrária à decisão que traria muitos prejuízos às nossas vidas, enquanto bancárias e bancários do Banpará.

Não aceitei me dobrar àquela determinação, e fiquei totalmente decepcionada com a postura das entidades sindicais que, sem jamais consultar a categoria, sem respeitar os direitos conquistados nas lutas, se dobraram e entregaram as cabeças de mais de mil trabalhadores, pais e mães de família, que estavam, há quase 20 anos, com o Plano de Cargos e Salários congelado; muitos dos quais já beiravam a aposentadoria, suportaram, durante os 12 anos de governo tucano, uma nociva política de reajuste zero, e tiveram, por pressão do BACEN em 1998, que emprestar 20% dos seus salários para capitalizar o Banpará.

A AFBEPA, naquele momento sozinha, sem o apoio de qualquer entidade do movimento sindical, iniciou uma forte defesa da cláusula 18ª do ACT 2008/2009, que versava sobre a implantação do Plano de Cargos e Salários do funcionalismo do Banpará e, para tanto, chamou a unidade dos trabalhadores, para salvar o nosso Direito.

DA LUTA PELA IMPLANTAÇÃO DO PCS E A VITÓRIA NA JUSTIÇA CONTRA OS PELEGOS
Enquanto Presidenta da Associação informei a todos o que estava acontecendo, mobilizei, organizei, reuni e chamei à UNIDADE os trabalhadores do interior e da capital. NÃO PODÍAMOS NOS CURVAR À DIREÇÃO DO BANCO, AO GOVERNO E AO SINDICATO DOS BANCÁRIOS. 

Enfrentamos o sindicalismo pelego e atrelado e, com mérito, pois foi muito difícil lutar contra GOVERNO, BANCO E SINDICATO; eles estavam muito unidos, mas nós também estávamos e vencemos, em parte, um round dessa luta.
Entretanto, era latente, e para mim, muito forte o ódio que integrantes da direção do Sindicato dos Bancários, em sua grande maioria, passou a nutrir contra a minha pessoa. Até hoje percebo isso.

Na época, a coesa máquina formada pelos entes - Sindicato, Governo e Banpará, perseguiam, mentiam, caluniavam, enfim, utilizavam de todo tipo de medidas baixas e rasteiras para buscar uma impossível legitimidade, porém a categoria já sabia quem estava ao lado deles e de nossas lutas; já sabia separar o joio do trigo.

O grande responsável pela vitória do PSDB em 2010 foi o próprio desgoverno do PT. Eles, somente eles, com sua incompetência e desrespeito, entregaram tudo aos tucanos. Quem se esqueceu das nossas campanhas salariais, quando eles denunciavam os trabalhadores porque queriamos fazer greves para tentar modificar a postura patronal?! Os diretores do Sindicato iam contra a gente; fecharam os portões para os legítimos donos do Sindicato, impediram os bancários até de entrar e fazer assembleia; anularam eleição sem apresentar justificativas plausíveis, de tudo fizeram contra os bancários do Banpará. Até num jornal de grande circulação local, o Sindicato apunhalou a categoria quando publicou em nota paga, expressamente, que não apoiava a nossa greve, que quem era responsável pela greve era a AFBEPA. Daí a sua deslegitimação aos olhos da categoria; por isso, hoje, a AFBEPA, com apenas uma representante liberada tem que atuar como Sindicato e possui o reconhecimento dos bancários e bancárias do Banpará.

Seria cômico, se não fosse trágico, mas como explicar que, neste ano, 2012, a mesma postura de atrelamento foi adotada, só que agora o Estado não é governado pelo PT, e sim pelo PSDB, e por que, novamente, eles foram contra a nossa greve??!!

Justificavam que a categoria tinha que entrar junta na greve, contudo, esqueciam que, diferente dos banqueiros da FENABAN, a posição da direção do Banpará foi de não receber a nossa Minuta, na data da entrega desse documento, a direção do Banco mandou um advogado para recebê-lo e nós exigimos que viesse um diretor. A direção do Banco não quis, de forma alguma, ratificar o nosso ACT (a ratificação é o que garantiria, e garantiu pela nossa luta, a validade do ACT até a assinatura do novo Acordo). A direção do Banco comunicou, por diversas vezes aos funcionários e ao Sindicato, que não atenderia as nossas cláusulas econômicas, apenas discutiria as cláusulas sociais, assim como só acataria as cláusulas econômicas que viessem da FENABAN. Nossas perdas seriam imensas.

Diante da gravidade dessa situação, a direção do Sindicato apenas chamou algumas inexpressivas paralisações, apoiadas pela Direção do Banpará. Na Justiça do Trabalho, na frente da Desembargadora Federal do Trabalho, a direção do Banco manteve o que já havia externado pela intranet aos funcionários: não negociaria nada. Cláusulas econômicas seriam somente as da FENABAN. O Banco só negociaria as cláusulas sociais. Porque mesmo assim, com o tamanho endurecimento do Banco, a direção do Sindicato foi contra nossa greve?!

Isso tudo poderia significar perdas irreparáveis, ou de difícil reparação para nós, empregados; por isso, como entidade legítima de defesa e luta dos interesses, direitos e conquistas dos trabalhadores, novamente tínhamos que ir à luta, e fomos.

Puxamos a greve, numa tumultuada assembleia chamada pelo Sindicato, e ali, mais uma vez, os trabalhadores mostraram à direção sindical que não estavam satisfeitos com a política, no mínimo complacente da entidade, diante dos ataques que estávamos sofrendo por parte da direção do Banpará, agora de governo tucano, amarelo, se quisermos definir por bandeira. 

Naquela assembleia a direção do Sindicato defendeu a posição que mais agradava a direção do Banpará. A AFBEPA defendeu a greve imediata e a categoria, por ampla maioria, votou na greve imediata. Mas, agora, a direção do Banco e a direção do Sindicato, juntas, atacam uma decisão que foi dos bancários e bancárias reunidos em assembleia puxada pelo próprio Sindicato, dentro do ginásio do Sindicato.

A AFBEPA foi à luta. Muito cedo, às 5 horas da manhã, já estávamos na porta da Matriz, segurando a força da greve. Mas, em contrapartida, já não bastasse à luta contra a força da administração do Banco e do governo, o Sindicato ligava para todos os interiores falando contra a nossa greve. A cada dia tínhamos que nos esforçar para rebater a desagregação promovida pela direção do Sindicato dos Bancários.

2012 - O DESRESPEITO PROMOVIDO PELO BANCO E A CONSEQUENTE FRAGILIZAÇÃO DA MESA DE NEGOCIAÇÃO
Só após a deflagração da nossa Greve, o Banco abriu a mesa de negociação e ratificou o nosso ACT. Na abertura da mesa, a Direção do Banpará não quis consignar nada em Ata, e a única entidade que, na hora, questionou e se posicionou contrária à ausência de uma Ata foi a AFBEPA, cobrando, com veemência, pois aquilo era um desrespeito para com a categoria. Timidamente o Sindicato concordou, mas, nas futuras mesas, não exigiu a confecção das Atas, permitindo o desrespeito contra os trabalhadores, ali representados.

No dia da assinatura do ACT, novamente a postura sindical foi ridícula, pois a presidenta do Sindicato, calou, consentiu, anuiu com a imposição do presidente do Banco em deixar uma diretora do próprio Sindicato do lado de fora da sala. Cadê o respeito pela entidade, e, por conseguinte, aos trabalhadores?!

Cobrei, assim que adentrei o recinto, o porquê de haver uma dirigente sindical do lado de fora, na antessala, pois pra mim, mais uma vez, a descortesia, a deseducação e a arrogância estavam prevalecendo por parte da direção do Banpará, que punha para fora, sem o mínimo respeito, uma dirigente sindical. Mas quem devia defender e se levantar para mostrar que não aceitava aquilo, era a presidente do Sindicato, que nada fez, quedou inerte, aceitou calada a humilhação.

Recentemente, outra vergonha: a entrega do abaixo-assinado sobre o tíquete extra, quando o Sindicato chamou uma mobilização para a porta da Matriz, e não conseguiu, sequer, chegar à sala da presidência do Banco para entregar o resultado do esforço dos colegas, onde todos acreditaram e assinaram, e passaram o abaixo-assinado, mas a direção do Sindicato aceitou a determinação do presidente do Banco, que ordenou que uma secretária sua pegasse o abaixo-assinado das mãos da direção sindical, na recepção, na entrada da 28 de setembro.

A AFBEPA vem denunciando essa fraqueza e complacência da direção sindical, que sempre atende aos interesses da direção do Banco! Os trabalhadores vêem, é gritante, já há algum tempo, essa falta de política de enfrentamento, essa falta de coragem, de firmeza, de tempestividade para as lutas!

Até sugerimos, na luta do tíquete extra, a paralisação de todas as unidades do banco por 1 hora e, posteriormente, crescer com o movimento em defesa do retorno do nosso direito, do retorno do nosso dinheiro. Mas a direção sindical preferiu paralisar pelo motivo da ampliação do horário nas Unidades do Interior, mesmo sabendo que o Banco estava agindo ilegalmente nessa questão, uma vez que a regra do ACT é clara: cabe ao Comitê de Segurança dispor sobre o fechamento e abertura das unidades do Banco. Ou seja, o Sindicato foi envidar esforços, sobre algo que o Banco teria que rever a sua posição, pois estava agindo contra o que havia convencionado, a sua postura era ilegal e inadequada em relação à segurança. Quando vencemos e o Banco teve que retroceder e mudar os horários de encerramento do atendimento, ficou bem claro, pela própria área que a vitória tinha sido dos argumentos legais que a AFBEPA e os representantes dos funcionários no Comitê de Segurança defenderam.

NÃO TENTEM ME ENLAMEAR! TENHO ORGULHO DE SER O QUE SOU, DE LUTA! E TEREI SEMPRE MINHA CABEÇA ERGUIDA!
A própria Direção Sindical contribuiu e contribui para sua queda, pois não trata com compromisso e seriedade as questões dos trabalhadores.

Em relação a mim, Kátia Furtado, que tenho vivido esses anos sendo atacada por essa direção sindical, em ambos os governos, somente posso afirmar que JAMAIS farei conchavos, ou mesmo me aliarei a governos ou empregadores, pois não acredito em nenhum dos dois e nem que, da parte dessas instituições, sem lutas, saiam políticas positivas para a vida dos trabalhadores. Não acredito em empregador e em governo. Eles fazem o que é melhor para defender os seus interesses, mas erram quando nos retiram direitos. A gente tem que fazer a nossa parte, que é lutar pelo que queremos. A AFBEPA e a categoria têm feito a sua parte, que são as nossas lutas e as nossas vitórias.

Governantes e direções de Banco, como pessoas que representam interesses dos exploradores que querem, sempre, auferir lucros exorbitantes, vão ser boazinhas em algum momento e conceder a nós, os explorados os bens da vida que precisamos para viver?! Só acreditaria nisso, se ainda acreditasse em contos de fadas, e essa fase da minha vida já passou.

A história nos mostra que as conquistas e as mudanças nunca vieram por concessões, benesses, nunca foi assim; ao contrário, o que se conquistou por direito teve a força dos trabalhadores em duros embates contra o poder dos patrões; embates que custaram até vidas de centenas de trabalhadores de luta. A forma mais usada pelos trabalhadores, em oposição à opressão patronal é a recusa ao trabalho, que se dá de diferentes maneiras, dentre elas a greve, que é a mais utilizada, quando as portas do diálogo se fecham, o que tem acontecido muito no Banpará: portas fechadas e diálogos negados.

De minha parte, posso olhar e dizer com muita MORAL, diante do rosto de quem quer que seja, e afirmar que nunca fui de governo algum, nunca tive ninguém lá; e não tenho interesse de ser; nunca sentei sozinha com diretores do Banco, nunca pedi nada a nenhum deles que me favorecesse pessoalmente ou alguém de minha família, até porque não aceito e nem gosto ser cobrada; resido num apartamento na periferia que comprei com meu FGTS; tenho um Fiat Uno Mille Fire 2007/2008, básico. Vivo do meu salário e do que o meu marido ganha, e assim sustento e educo meus filhos que sempre terão orgulho de dizer que sua mãe é uma pessoa verdadeira, que jamais traiu ou enganou pessoas ou causas.

Estou fazendo esse relato, porque não admito que ninguém jogue na minha cara coisas que não sou e não tenho. O que tenho, e são inatingíveis, intangíveis e intocáveis, além dos meus filhos, que são os bens mais preciosos que tenho aqui na terra, são os meus princípios e valores de vida, que aprendi com a minha mãe e que repasso para os meus filhos. Sou uma pessoa simples e humilde, mas uma fera quando se trata de defender o que acredito. Conhecer, entender e defender a condição humana é fundamental, por isso também me defino como humanista; não aceito que as pessoas sejam tratadas como coisas, isso para mim é inadmissível.

Estou na vida sindical e pretendo terminá-la, um dia, COM A MINHA HONRA INTACTA. Jamais vou aceitar algo que ameace os interesses, direitos e conquistas da categoria bancária, ou mesmo os interesses sociais que defendo e acredito.

Basta! Que esses diretores do Sindicato se dêem o devido respeito, porque eu exijo, sempre, que me respeitem e que respeitem quem eu represento. Inclusive, como filiada do Sindicato, cuja direção tanto me ataca, devo buscar meus direitos legais, a reparação dos danos morais que vivem me imputando. Assim, penso que aprenderão a respeitar uma mulher de luta!

Busquem serem mais atuantes, verdadeiros, corretos; aí sim, vocês vão se livrar das justas críticas e, quem sabe um dia, terão o apoio da categoria. Enquanto isso, me deixem em paz e trabalhem, como eu faço.

Finalmente, nada me detém quando sei que estou no caminho certo. Como diz o ditado, não se joga pedra em árvore que não dá frutos. Se me jogam pedras, eu respondo com mais trabalho, com mais luta, com mais independência e coragem. Tudo passa nessa vida, mas a honra, e as sementes que plantamos ficam. E isso, ninguém me tira.
Que 2013 seja um ano abençoado a todos nós, de muitas lutas, conquistas e aprendizados.

KÁTIA FURTADO
BANCÁRIA DO BANPARÁ, ADVOGADA-OAB 14979
PRESIDENTA DA AFBEPA, REPRESENTANTE NOS EMPREGADOS DO BANPARÁ NO GT PCS.




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Um comentário:

Marlon George disse...

A verdadeira história sempre aparecerá. Muito boa a carta. Parabéns, Kátia. Continue sendo essa mulher guerreira, lutadora e honesta. Muitos no BASA te admiram muito. Feliz 2013.