Com esse título, o brilhante jornalista Leonardo Sakamoto, posta profundas reflexões em seu blog, sobre o consumismo exacerbado e inconsciente do período natalino. Busque informar-se. Há tantas opções menos danosas à natureza e ao meio ambiente. Há tantos trabalhos artesanais, de cooperativas de artistas oferecendo belos produtos reciclados, feito com amor. Postamos o texto abaixo, como um pedido de conscientização. Não vamos nos endividar ainda mais nestes tempos de crise. Natal é amor!
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"Sábado de manhã, ruas lotadas no Centro e shopping centers
apinhados na capital paulista. A sociedade não se pergunta a razão de
roupas serem vendidas a preço tão baixo. Apenas compra, compulsivamente.
O governo também não reclama, porque há impostos. Grandes confecções
não reclamam, afinal essa estrutura lhe dá lucro. O setor empresarial
não reclama, haja vista que roupas baratas ajudam a manter baixo o custo
de reprodução social dos seus empregados. E segurar as pressões por
aumento de salários.
Ninguém se pergunta como algo de valor pode custar tão barato.
Ninguém faz a ligação de algumas gôndolas bonitas com as imagens de
trabalhadores superexplorados em decrépitas oficinas de costura, seja em
São Paulo, seja no Sudeste Asiático, ganhando uma miséria para que
fiquemos bem vestidos.
Mas também é hora de comprar aquele carro dos sonhos! As
concessionárias vão bombar neste domingo. Os vendedores terão resposta
para o consumo de combustível, a potência, o tamanho do porta-malas. Mas
ao perguntar se garantem a origem social e ambiental do produto,
certamente farão cara de paisagem.
Hoje, ao comprar um carro, você não tem como saber se o aço ou o
couro que entrou na fabricação do veículo foram obtidos através de
mão-de-obra escrava ou trabalho infantil ou se beneficiando de
desmatamento ilegal. Por que? Porque essas empresas não rastreiam como
deveriam os fornecedores de seus fornecedores, apesar das comprovações
de ilegalidades apontadas pelo Ministério Publico Federal e pela
sociedade civil. E nas suas cadeias produtivas, já apareceram nomes que
constavam da lista de embargos do Ibama ou da “lista suja” do trabalho
escravo do Ministério do Trabalho e Emprego.
Então, um celularzinho?
Você sabia que vários dos seus equipamentos eletrônicos não
funcionariam sem ouro? Os equipamentos de transmissão de voz necessitam
de 30 diferentes tipos de metal para funcionar. E muitos desses metais
são extraídos em minas de países pobres nas quais trabalhadores
enfrentam condições de trabalho aterradoras. Na República Democrática do
Congo, 50 mil crianças, algumas delas com apenas sete anos de idade,
trabalham em minas de cobre e cobalto por jornadas exaustivas sem nenhum
tipo de proteção.
Em outras regiões, vilas inteiras foram removidas para dar mais
espaço para a mineração. E enquanto alguns pequenos garimpeiros
conseguem sustentar suas famílias (basicamente com comida e remédios)
com muita dificuldade, companhias mineradoras e negociadores enchem os
bolsos por conta do comércio de matérias-primas minerais.
O meio ambiente também sofre cada vez mais por conta do nosso apetite
irrefreável por todos os últimos lançamentos de gadgets eletrônicos. Em
Norislk, na Rússia, onde níquel, cobalto, platina e paládio são
extraídos para a produção de componentes eletrônicos, a poluição do ar é
tão alta que muitas crianças sofrem com doenças nos pulmões de
incapacidade respiratória.
De 2003 até hoje, a Repórter Brasil rastreou mais de 600 casos de
cadeias produtivas com danos sociais e ambientais (da matéria-prima até o
consumidor final), contribuindo com o desenvolvimento de políticas
públicas e corporativas visando à mudança no comportamento empresarial e
governamental. Se um punhado de jornalistas consegue fazer isso com
poucos recursos, uma grande empresa tiraria esse desafio de letra. Se
quiser.
Cobrar daqueles que nos vendem um produto decente – em todos os
sentidos. A responsabilidade é deles de garantir isso. Mas também do
Estado, que deve elaborar e fazer cumprir leis e regras nesse sentido. E
nossa, de encher a paciência deles, preferindo uns, execrando
outros. Há muita informação circulando – este blog traz,
sistematicamente, fontes de dados sobre bons produtos.
OK, concordo que não é possível bloquear tudo o que causa impacto,
caso contrário, não viveríamos – ninguém está defendendo que produzamos
nossa própria roupa ou moremos em cavernas. Mas se cobrarmos explicações
das empresas toda vez que denúncias vierem à público, incluindo nosso
boicote, certamente a percepção de investidores dessas mesmas ou de seus
clientes será diferente. A imagem é tudo.
Mas, afinal, é Natal. Tempo de união e paz. Para mim e os meus, é claro. O outro, que se dane."
Para ler o post na fonte, clique aqui.
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