quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

MARAVILHOSA A PALESTRA DO PROF. ALUISIO LEAL

Cristina Quadros, prof. Aluísio Leal e Kátia Furtado



Bancários do Banpará, atentos à palestra do prof. Aluísio Leal.





Como era de se esperar, a brilhante palestra do prof. Aluisio Leal foi uma maravilhosa aula de economia. Bastante esclarecedora quanto ao papel social de um banco público estadual, a fala do professor foi pontuada por conceitos solidamente confirmados nos exemplos trazidos para elucidar o debate. A participação dos presentes foi intensa e, ao final, o sentimento era de profundo aprendizado e o gosto era de "quero mais". Certamente, vivenciaremos novos momentos com o prof. Aluisio Leal e também com outros intelectuais que nos honrarão com suas contribuições à nossa luta concreta em defesa do banco público estadual. Abaixo, alguns trechos da palestra que está gravada e, com a permissão do prof. Aluísio Leal, será publicada aqui em nosso blog.


"Qual seria o papel social de um banco? Não há nada mais capitalista do que um banco (...) O capital existe sob todas as formas de riqueza. (...) tudo o que existe sob a forma de mercadoria é capital, tudo o que se leva pro mercado pra transacionar e gerar lucro é capítal
, e o motor do capital é o lucro. Sem lucro não existe capital, porque é quando as mercadorias circulam pelo mercado que elas são vendidas por um preço acima do custo que surge o lucro e consequentemente esse lucro é a base dos novos investimentos que aumenta a quantidade de riqueza que é o capital. Tem uma das formas do capital que é particularmente estratégica, é o capital sob a forma de dinheiro, porque o dinheiro é a mercadoria que tem o poder de comprar todas as demais mercadorias. O dinheiro é essencial porque é através dele que se faz o investimento. E a sede do dinheiro é o banco. A matéria prima do banco é dinheiro e o produto final do banco é dinheiro. O banco funciona pagando um juros para quem coloca dinheiro nele e cobrando um juros muito maior para quem pede emprestado esse dinheiro. É disso que o banco faz dinheiro. Não há nenhum empreendimento mais capitalista do que o banco. O objetivo do banco é estritamente o lucro sob a forma do lucro financeiro.

Todas as coisas têm um papel social. O papel social de qualquer coisa corresponde ao objetivo social que a sociedade confere. O objetivo social da sociedade capitalista é produzir riqueza sob a forma de capital, então qualquer instituição social na sociedade capitalista, o papel social dela é contribuir para que se produza capital. Os bancos ou são estritamente destinados ao jogo da especulação financeira, como são os bancos do segmento privado, ou são bancos destinados a garantir o suporte de recursos sob o nome de dinheiro, aos objetivos sociais da sociedade: gerar uma produção de mercadoria que depois produza lucro. Esses bancos geralmente são bancos amparados pelo poder público, geralmente são os bancos de investimentos, que trabalham com linhas de créditos que cobram juros diferenciados dos juros de mercado, o juro é o preço do dinheiro.

Quando um banco é criado sob uma perspectiva"social", ele geralmente funciona com crédito subsidiado, que sempre se destina à produção, porque é preciso garantir para quem está produzindo um certo fôlego para ter como investir. As grandes empresas quando precisam aumentar sua capacidade nunca dispõe de recursos próprios, porque a empresa sempre procura se expandir além das fronteiras às quais está circunscritas; geralmente uma empresa teria capital para aumentar 5%, mas ela quer aumentar 20%, então ela vai buscar esses 15% que faltam dentro do sistema bancário. E os planejadores da economia decidem quais são as áreas prioritárias, onde é preciso injetar dinheiro para crescer a economia, é aí que surgem as linhas diferenciadas de crédito para estimular essa ou aquela atividade, e geralmente são os bancos públicos, o circuito de bancos de invetsimentos que se engarregam de fazer isso. Mas não há aí nenhuma atividade filantrópica, o que há é o estrito interesse do jogo bancário. Não há nenhuma face humana na estrutura do banco.

Particularmente, os bancos também servem, numa economia como a brasileira, para um outro negócio: os esquemas de corrupção. Os grandes rombos sempre acontecem nos bancos públicos.


O sistema capitalista está em uma crise terrível. Há muito tempo que o pessoal da linha da chamada economia política crítica vinha alertando. Como se dá uma crise? Uma crise sempre se dá após um período de euforia. O mercado é a placenta da empresa. Sem o mercado a empresa não vive. E pra uma empresa ter segurança, ela tem que ter mercado. Por isso, o capital enquanto forma de riqueza social tem uma característica interessante: ele exige que os agentes da produção dele enquanto riqueza, sejam os mais eficiente possíveis. Pra ser um agente da produção capitalista é preciso ser eficiente. E essa eficiência é depurada sob a forma de competição. O capital instila a competição como a base da atividade empresarial. (...) As empresas, para competir e se manter no mercado, produzem além da capacidade que o mercado tem de consumir. Isso é uma lógica do capital. E quando o mercado regurgita a produção, vem a crise, entra todo mundo numa espiral recessiva terrível.


O capitalismo ingressou num período de crise após a segunda guerra mundial no século passado. A competição não se dá só entre as empresas, mas também entre as potências mundiais. Quando Japão e Alemanha entraram com força no mercado mundial, os EUA começaram a "tremer nas bases". À medida em que o mercado começa a saturar, acontece algo que agrava mais a crise: o capital, como dinheiro, que não encontra aplicação produtiva, isto é, não corre pra dentro do financiamento da expansão da produção, ele corre pra esfera especulativa, dentro das bolsas de valores, ocorre que nessa área o que circula é papel; ação remunera, mas desde que a empresa esteja dando resultado positivo no mercado. Por isso os países ricos começaram a rearrumar o sistema, pr uma receita muito simples: lucro é igual a receita menos custo. Só há duas maneiras de aumentar o lucro: ou aumentando a receita ou diminuindo a despesa. Numa situação de crise não se aumenta receita, porque a receita é dada pelo mercado. então se corta custo. Quais são os ítens de custo? meios de produção - máquina, infraestrutura, matéria prima - e força de trabalho - trabalhadores. O custo a ser cortado, imediatamente, é o da força de trabalho. è por isso que todos os grandes países desenvolvidos fizeram isso lá e mandaram o recado para os países retardatários, o Consenso de Washington, a cartilha que os EUA mandaram pra nós aqui embaixo: várias medidas, dentre as quais a chamada desregulamentação da economia.

A sociedade capitalista é uma sociedade de contrato. Tudo se faz por contrato: um cheque, um casamento, uma compra, tudo é um contrato. O que a crise fez os grandes países capitalistas terem que propor? Vamos acabar com os contratos. O primeiro contrato que tem que acabar é o da força de trabalho. Acabar com previdência, décimo terceiro... os trabalhadores serão pagos pelas horas de trabalho. Parou, não recebe. Por isso o Estado, o ente que exerce poder político sobre o povo e sobre o território, deve cortar todos os gastos, reduzir seus gastos estritamente ao que arrecada. Mas de onde os estados arrecadam? dos assalariados. É quem paga. E é óbvio que dentro de uma situação de recessão a arrecadação sofre. Como as sociedades subdesenvolvidas têm que continuar funcionando pra alimentar as necessidades de produção do capital, é nessas que se concentram a pior carga resultante da crise. É aí que surge o Estado Mínimo, que não é um Estado fraco, é fortíssimo. Sai o Estado da economia, deixa a economia para o setor privado, e o Estado tem que se reduzir apenas a manter a "ordem". O Estado Mínimo cuida da segurança interna e da segurança externa: as forças armadas, a justiça e a polícia. Por isso, os planos econômicos reduziram as condições financeiras da força de trabalho, que tem os salários achatados, e as privatizações transferiram a participação do Estado na economia para o setor privado.

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Continuamos logo mais a transcrição e chegaremos ao debate sobre o Mercado de Carbono. Aguardem!













2 comentários:

Anônimo disse...

A vida é um eterno aprendizado. Parabéns à AfBePa e ao ilustre Prof. Aluísio pela preciosa contribuição para o nosso engrandecimento profissional. Que esses eventos desse porte tornem-se frequentes no calendário anual da nossa associação.

Anônimo disse...

Já adorei esses trechos!
Espero anciosa, pela publicação completa da palestra.