Kátia Furtado esteve
pessoalmente em Moju, quando, recentemente, o PAB foi assaltado e, em contato
direto com a colega vitimada e seus familiares, produziu esse relato impactante
que mostra a realidade da (in)segurança a que estão submetidos os trabalhadores
bancários e bancárias. As fotos mostram as marcas físicas deixadas pelos bandidos nos braços da filha e do filho da bancária. As marcas da alma não podem ser fotografadas. Leia, reflita, comente. E vamos agir.
QUANDO O TRABALHO FAZ SOFRER
Os bancários nas últimas
décadas têm vivido uma verdadeira via-crucis para poderem realizar o que
deveria dignificar o ser humano, o trabalho, pois ao invés de sua força de
trabalho ser aproveitada para a finalidade contratual, os bancos, abusando do
seu poder, tem exposto seus trabalhadores a riscos e responsabilidades que devem
ser assumidos por quem emprega.
Dotar o ambiente do trabalho
com mecanismos que garatam segurança, saúde e higiene aos trabalhadores, é um
imperativo determinado na Lei Máxima do Brasil, a Constituição Federal de 1988.
Mas, atualmente e
recorrentemente, as vidas dos trabalhadores bancários são mapeadas e suas casas
invadidas por quadrilhas por motivos de assaltos a Banco, numa flagrante invasão
de privacidade, isto porque o empregador tem transferido ao seu empregado a
responsabilidade e o risco pela guarda das chaves dos locais de trabalho e dos
cofres.
Num assalto a Banco, na
modalidade sapatinho, o bancário geralmente é mantido sob cárcere e tem a sua
família, e algumas vezes demais parentes, seqüestrados, enquanto o gerente,
tesoureiro ou coordenador do PAB é obrigado pelos bandidos a realizar a figura
típica descrita na Lei Penal.
Há alguns meses, os bandidos
também têm dado preferência a seqüestrar e manter em cárcere os bancários que
realizam o sobreaviso, com o mesmo desiderato: assaltar o dinheiro do Banco.
Acompanhar e registrar a dor
e o sofrimento no olhar de cada bancário e bancária que passa por um momento
desses é, no mínimo, desolador. Neste último assalto ocorrido em Mojú, foram
vítimas a bancária que estava no sobreaviso e toda a sua família, esposo,
filha, filho e um amigo do filho.
Ouvir dessa trabalhadora,
que acordou às cinco e meia da manhã com dois homens armados dentro da sua
casa, dentre um total de vinte homens fortemente armados, incumbidos de
assaltar o seu local de trabalho e que, por isso, iriam levar de seu convívio e
manter seqüestradas as pessoas mais amadas por ela, como forma de conseguirem o
sucesso da empreitada ilícita, foi angustiante, como sempre é, quando ouvimos
relato desse tipo de um colega bancário.
A bancária foi forçada a ir
buscar o dinheiro no Banco, junto com alguns bandidos, enquanto outros seguiam
com sua família para local incerto e ignorado.
Para a bancária, desde a
hora em que foi acordada em sua casa por pessoas estranhas, sob a mira de pistolas,
até a consumação do assalto, os momentos de agonia, dor e sofrimento se
eternizaram em sua mente, pois a sua família se mantinha sob poder dos
bandidos. E como a polícia estava caçando a quadrilha, o risco iminente de tiroteio
entre bandidos e polícia era uma possibilidade real.
Por fim o alívio: a sua
família havia sido libertada. Ao ver a sua filha e filho com os pulsos
machucados e os pés e mãos doloridos, a bancária sentiu a enorme dor e impotência
da mãe, por não ter conseguido evitar o sofrimento do filho e da filha.
Imediatamente, ignorando todo
o trauma vivenciado pela bancária, apareceu a polícia querendo ouvir os
depoimentos de todos, sem se importar com o abalo daquela família, que foi acordada
por volta das 5h da manhã sob a mira de armas. Também não importavam as lesões,
a dor e os machucados nos pés devido à grande caminhada, pois eles haviam sido
deixados num ramal, longe da estrada principal. O olhar vazio e triste da
trabalhadora parecia não existir para os policiais diante dos procedimentos adotados,
quando não se considera o ser humano, que nesse momento precisa muito de uma
palavra carinhosa, de um abraço amigo, de um alento para suportar as dores
físicas e as da alma.
Com profunda dor e lamento, a
bancária afirmava não conseguir aceitar a situação, uma vez que o Banco não
empregava a sua família, mas ela apenas, e que sua casa era seu local privativo
de aconchego, da família e de seus convidados etc. Era perceptível nessa
bancária o sofrimento da mente, demonstrado nos choros e nos olhares distantes.
As providências efetivadas
pelo Banco ainda estão aquém da proteção necessária para manter a integridade
física e psíquica da vida de seus trabalhadores e trabalhadoras, que jamais
poderiam ser submetidos a esse tipo de sofrimento, constrangimento e
humilhação. Há danos efetivos contra a saúde e a vida ameaçada dos bancários e
bancárias.
Cabe ao empregador bancário
observar a Lei e aos seus fiscais, Superintendência Regional do Trabalho e Emprego e
Ministério Público do Trabalho, fazer cumpri-la.
Em que pese o grande número
de jurisprudências desfavoráveis aos banqueiros, que os condenam com base na
tese correta de que quem se aproveita da atividade econômica deve suportar o
seu risco, ainda é pouco o número de trabalhadores bancários que demandam na
Justiça do Trabalho a indenização pelo dano material e moral suportado, o que é
uma pena, pois os Bancos ficam à vontade para permanecer no erro, sem o dever
de adequar os mecanismos e estruturas necessárias a obstar a (in)segurança.
É preciso dar um basta a
essa situação e, efetivamente, garantir a segurança e a proteção às vidas dos
bancários e bancárias. Para isso, é urgente a contratação de empresas de
segurança que se responsabilizem pelas chaves das agências, postos e cofres, assim
como deve ser extinta responsabilidade do sobreaviso, que não é do bancário.
Temos direito à vida e a um
trabalho decente e seguro! E vamos lutar
por isso, com todas as nossas forças e esperanças! Unidos, somos fortes!
Kátia Furtado
Presidenta da AFBEPA.
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Esperamos que o banco tome medidas energicas e urgentes em relação a guarda dessas chaves, pq retirar o risco de apenas alguns funcionários(cord de pab, tesoureiros e gerentes) e colocar na mão de outros, como se suas vidas valessem menos. Isso é revoltante, isso precisa mudar. Qualquer um que guarde essas chaves se tornarao alvo em potencial desses criminosos, enquanto isso o banco só assiste de camarote, a vida dos seus funcionários e familiares serem totalmente desestrutaradas, invadidas e levando traumas que só o tempo conseguirao apagar.
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