segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

QUANDO O TRABALHO FAZ SOFRER


Kátia Furtado esteve pessoalmente em Moju, quando, recentemente, o PAB foi assaltado e, em contato direto com a colega vitimada e seus familiares, produziu esse relato impactante que mostra a realidade da (in)segurança a que estão submetidos os trabalhadores bancários e bancárias. As fotos mostram as marcas físicas deixadas pelos bandidos nos braços da filha e do filho da bancária. As marcas da alma não podem ser fotografadas. Leia, reflita, comente. E vamos agir.




QUANDO O TRABALHO FAZ SOFRER

Os bancários nas últimas décadas têm vivido uma verdadeira via-crucis para poderem realizar o que deveria dignificar o ser humano, o trabalho, pois ao invés de sua força de trabalho ser aproveitada para a finalidade contratual, os bancos, abusando do seu poder, tem exposto seus trabalhadores a riscos e responsabilidades que devem ser assumidos por quem emprega.


Dotar o ambiente do trabalho com mecanismos que garatam segurança, saúde e higiene aos trabalhadores, é um imperativo determinado na Lei Máxima do Brasil, a Constituição Federal de 1988.


Mas, atualmente e recorrentemente, as vidas dos trabalhadores bancários são mapeadas e suas casas invadidas por quadrilhas por motivos de assaltos a Banco, numa flagrante invasão de privacidade, isto porque o empregador tem transferido ao seu empregado a responsabilidade e o risco pela guarda das chaves dos locais de trabalho e dos cofres.

Num assalto a Banco, na modalidade sapatinho, o bancário geralmente é mantido sob cárcere e tem a sua família, e algumas vezes demais parentes, seqüestrados, enquanto o gerente, tesoureiro ou coordenador do PAB é obrigado pelos bandidos a realizar a figura típica descrita na Lei Penal.


Há alguns meses, os bandidos também têm dado preferência a seqüestrar e manter em cárcere os bancários que realizam o sobreaviso, com o mesmo desiderato: assaltar o dinheiro do Banco.


Acompanhar e registrar a dor e o sofrimento no olhar de cada bancário e bancária que passa por um momento desses é, no mínimo, desolador. Neste último assalto ocorrido em Mojú, foram vítimas a bancária que estava no sobreaviso e toda a sua família, esposo, filha, filho e um amigo do filho. 


Ouvir dessa trabalhadora, que acordou às cinco e meia da manhã com dois homens armados dentro da sua casa, dentre um total de vinte homens fortemente armados, incumbidos de assaltar o seu local de trabalho e que, por isso, iriam levar de seu convívio e manter seqüestradas as pessoas mais amadas por ela, como forma de conseguirem o sucesso da empreitada ilícita, foi angustiante, como sempre é, quando ouvimos relato desse tipo de um colega bancário.


A bancária foi forçada a ir buscar o dinheiro no Banco, junto com alguns bandidos, enquanto outros seguiam com sua família para local incerto e ignorado.


Para a bancária, desde a hora em que foi acordada em sua casa por pessoas estranhas, sob a mira de pistolas, até a consumação do assalto, os momentos de agonia, dor e sofrimento se eternizaram em sua mente, pois a sua família se mantinha sob poder dos bandidos. E como a polícia estava caçando a quadrilha, o risco iminente de tiroteio entre bandidos e polícia era uma possibilidade real.


Por fim o alívio: a sua família havia sido libertada. Ao ver a sua filha e filho com os pulsos machucados e os pés e mãos doloridos, a bancária sentiu a enorme dor e impotência da mãe, por não ter conseguido evitar o sofrimento do filho e da filha.


Imediatamente, ignorando todo o trauma vivenciado pela bancária, apareceu a polícia querendo ouvir os depoimentos de todos, sem se importar com o abalo daquela família, que foi acordada por volta das 5h da manhã sob a mira de armas. Também não importavam as lesões, a dor e os machucados nos pés devido à grande caminhada, pois eles haviam sido deixados num ramal, longe da estrada principal. O olhar vazio e triste da trabalhadora parecia não existir para os policiais diante dos procedimentos adotados, quando não se considera o ser humano, que nesse momento precisa muito de uma palavra carinhosa, de um abraço amigo, de um alento para suportar as dores físicas e as da alma.


Com profunda dor e lamento, a bancária afirmava não conseguir aceitar a situação, uma vez que o Banco não empregava a sua família, mas ela apenas, e que sua casa era seu local privativo de aconchego, da família e de seus convidados etc. Era perceptível nessa bancária o sofrimento da mente, demonstrado nos choros e nos olhares distantes.


As providências efetivadas pelo Banco ainda estão aquém da proteção necessária para manter a integridade física e psíquica da vida de seus trabalhadores e trabalhadoras, que jamais poderiam ser submetidos a esse tipo de sofrimento, constrangimento e humilhação. Há danos efetivos contra a saúde e a vida ameaçada dos bancários e bancárias.


Cabe ao empregador bancário observar a Lei e aos seus fiscais, Superintendência Regional do Trabalho e Emprego e Ministério Público do Trabalho, fazer cumpri-la.


Em que pese o grande número de jurisprudências desfavoráveis aos banqueiros, que os condenam com base na tese correta de que quem se aproveita da atividade econômica deve suportar o seu risco, ainda é pouco o número de trabalhadores bancários que demandam na Justiça do Trabalho a indenização pelo dano material e moral suportado, o que é uma pena, pois os Bancos ficam à vontade para permanecer no erro, sem o dever de adequar os mecanismos e estruturas necessárias a obstar a (in)segurança.


É preciso dar um basta a essa situação e, efetivamente, garantir a segurança e a proteção às vidas dos bancários e bancárias. Para isso, é urgente a contratação de empresas de segurança que se responsabilizem pelas chaves das agências, postos e cofres, assim como deve ser extinta responsabilidade do sobreaviso, que não é do bancário.


Temos direito à vida e a um trabalho decente e seguro!  E vamos lutar por isso, com todas as nossas forças e esperanças! Unidos, somos fortes!

Kátia Furtado
Presidenta da AFBEPA.




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Um comentário:

Anônimo disse...

Esperamos que o banco tome medidas energicas e urgentes em relação a guarda dessas chaves, pq retirar o risco de apenas alguns funcionários(cord de pab, tesoureiros e gerentes) e colocar na mão de outros, como se suas vidas valessem menos. Isso é revoltante, isso precisa mudar. Qualquer um que guarde essas chaves se tornarao alvo em potencial desses criminosos, enquanto isso o banco só assiste de camarote, a vida dos seus funcionários e familiares serem totalmente desestrutaradas, invadidas e levando traumas que só o tempo conseguirao apagar.