quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

UM POEMA PARA A VIDA


No dia 12 de janeiro, junto a mais de cem mil irmãos haitianos, brasileiros e de tantos outros países, morreu Zilda Arns, uma grande mulher brasileira, vítima dos tremores de terra no Haiti.

Zilda Arns foi uma das fundadoras da Pastoral do Idoso e da Pastoral da Criança. Sua vida foi dedicada, inteira, à defesa da vida; foi sempre ação por dignidade, respeito e amor, vida humana, humanizada.

Zilda Arns foi uma grande conquista, uma vitória da vida enquanto viveu e ainda agora, quando parte, no exemplo que deixa para todos nós.
Para ela, e para todos e todas que, como ela, dedicam sua vida à vida de tantos e tantas, dedicamos estes trechos do poema de Thiago de Mello,



A VIDA VERDADEIRA

Pois aqui está a minha vida.
Pronta para ser usada.
Vida que não se guarda
Nem se esquiva, assustada.

Vida sempre a serviço
da vida.
Para servir ao que vale
a pena e o preço do amor

Ainda que o gesto me doa,

não encolho a mão: avanço
levando um ramo de sol.
Mesmo enrolada de pó,
dentro da noite mais fria,
a vida que vai comigo
é fogo:
está sempre acesa.

...

A vida vai no meu peito,
mas é quem vai me levando:
tição ardente velando,
girassol na escuridão.

...

Estou no centro do rio
estou no meio da praça.
Piso firme no meu chão
sei que estou no meu lugar,
como a panela no fogo
e a estrela na escuridão.

...

Por isso é que agora vou assim
no meu caminho. Publicamente andando
Não, não tenho caminho novo.
O que tenho de novo
é o jeito de caminhar.
Aprendi
(o que o caminho me ensinou)
a caminhar cantando
como convém
a mim
e aos que vão comigo.
Pois já não vou mais sozinho.

Aqui tenho a minha vida:

...

Feita à imagem do menino
mas a semelhança do homem:
com tudo que ele tem de primavera
de valente esperança e rebeldia.

...

Vida, toalha limpa
vida posta na mesa,
vida brasa vigilante
vida pedra e espuma
alçapão de amapolas,
sol dentro do mar,
estrume e rosa do amor:
a vida.

Há que merecê-la.



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